3º Domingo do Tempo Comum
Em tempos como os nossos, em que a palavra está descredibilizada de uma forma preocupante, somos hoje confrontados com textos bíblicos nos quais é por demais evidente a força da Palavra: é uma cidade inteira (Nínive), que se deixa interpelar pela palavra de um Jonas – desconhecido e sem credenciais – e inicia um processo global de conversão; é a palavra de Paulo, que nos convida a não absolutizarmos as realidades terrestres; é a palavra de Jesus, que faz com que quatro pescadores abandonem prontamente tudo e todos para O seguir.
Uma palavra assim não pode ser simples palavra humana, mesmo que a voz que a pronuncia não seja ‘credenciada’ pela vida (caso do profeta Jonas: inicialmente, desobediente e, depois, resmungão e mal humorado). Só Cristo é a Palavra – o Verbo – encarnada e, mesmo esta, aparece-nos envolta nas roupagens da fragilidade humana.
Por isso, o papa Francisco afirma em ‘A Alegria do Evangelho’: “A Palavra possui, em si mesma, uma tal potencialidade, que não a podemos prever. O Evangelho fala da semente que, uma vez lançada à terra, cresce por si mesma, inclusive quando o agricultor dorme (cf. Mc 4,26-29). A Igreja deve aceitar esta liberdade incontrolável da Palavra, que é eficaz a seu modo e sob formas tão variadas que muitas vezes nos escapam, superando as nossas previsões e quebrando os nossos esquemas.” – (nº 22)
Mas, se é verdade que a força da Palavra de Deus não está confinada à força da voz que a pronuncia, também não deixa de ser verdade que a ‘ressonância’ da voz – o testemunho – ajuda e facilita o acolhimento da Palavra. É o que nos recorda o mesmo papa Francisco, citando Paulo VI: “Que o mundo do nosso tempo, que procura, ora na angústia ora com esperança, possa receber a Boa Nova dos lábios, não de evangelizadores tristes e descoroçoados, impacientes ou ansiosos, mas sim de ministros do Evangelho cuja vida irradie fervor, pois foram quem primeiro recebeu em si a alegria de Cristo. De facto, a Igreja não cresce por proselitismo, mas “por atração.” – (nº 14).
Mais que linguagem douta ou frases tecnicamente bem construídas, o mundo de hoje precisa de ouvir dos nossos lábios palavras carregadas de uma experiência profunda, portadoras de uma jubilosa esperança. “Mais do que nunca, o testemunho da vida tornou-se uma condição essencial para a eficácia profunda da pregação. Sob este ângulo, somos, até certo ponto, responsáveis pelo avanço do Evangelho que proclamamos” – afirmava Paulo VI. Como seria bom que pudesse ser revisto o conhecido provérbio: “Bem prega Frei Tomás: olha para o que ele diz e para o que ele faz”!