33º Domingo do Tempo Comum
Se o modelo de ‘mulher virtuosa’, apresentado no texto do livro dos Provérbios, parece já não encaixar na mulher de hoje, dado que cada vez menos reduzida ao ambiente doméstico, no entanto o perfil aí apresentado foi traduzido por João II para os dias de hoje com estas palavras. “A Igreja lê no rosto da mulher os reflexos de uma beleza que é o espelho dos mais elevados sentimentos que o coração humano pode albergar: a totalidade do dom de si por amor; a força que é capaz de resistir aos grandes sofrimentos; a fidelidade sem limites; a operosidade incansável e a capacidade de conjugar a intuição penetrante com a palavra de apoio e encorajamento” (A Mãe do Redentor, nº 46). Esta é a verdadeira riqueza da mulher. Perdê-la em nome de um pseudo-igualitarismo com o homem é empobrecê-los a ambos.
Por sua vez, S. Paulo traduz esta mesma mensagem na atitude da vigilância que deve caracterizar a forma de estar na vida de qualquer cristão – homem ou mulher – em contraponto com a filosofia do mundo, condensada no lema “paz e segurança”, que apregoa o ideal do comodismo, da lei do menor esforço, do “come, bebe, regala-te”.
E uma e outra são apenas formas diferentes de dizer a parábola evangélica dos talentos, na qual é elogiado e recompensado o bom desempenho das qualidades e dons a cada um concedidos.
Esta parábola confirma também a evidência das capacidades diferentes com que cada um de nós foi dotado. De facto, não é a mesma coisa ter cinco talentos, dois ou um. Mas o que conta para Deus é o empenho posto na potenciação das qualidades e dons recebidos. Por isso, embora com resultados quantitativamente diferenciados, os dois primeiros recebem exatamente o mesmo elogio, porque igualados no seu desempenho, reconhecido como excelente. Só o último, não por só ter recebido um talento, mas por se ter deixado aprisionar pelo medo, pelo receio do fracasso, é que não é elogiado e acaba desapossado do pouco que tinha.
Porque não somos donos das nossas capacidades, para delas dispormos a nosso bel-prazer, o caminho a seguir é aquele que S. Paulo apontava aos cristãos da Comunidade de Tessalónica: “permaneçamos vigilantes e sóbrios”, para correspondermos alegre, entusiástica e generosamente à bondade do nosso Deus, que nos confiou de forma generosa os seus dons, para deles beneficiarmos e fazermos partilhar os nossos irmãos.
Pior ‘inferno’ que a consciência de uma vida fracassada, porque desperdiçada, não poderá haver!
Na verdade, não podemos desbaratar a nossa vida em futilidades – “a graça é enganadora e vã a beleza” – ou desperdiçá-la cobardemente em imobilismos estéreis: ela foi-nos dada para ser posta a render! Só dessa maneira ela nos será devolvida, e em medida acrescentada.
Vem mesmo a propósito este ‘Dia Mundial dos Pobres’ para o qual nos desafia o papa Francisco: “a pobreza tem o rosto de mulheres, homens e crianças explorados para vis interesses, espezinhados pelas lógicas perversas do poder e do dinheiro… Somos chamados a estender a mão aos pobres, a encontrá-los, fixá-los nos olhos, abraçá-los, para lhes fazer sentir o calor do amor que rompe o círculo da solidão. A sua mão estendida para nós é também um convite a sairmos das nossas certezas e comodidades e a reconhecermos o valor que a pobreza encerra em si mesma”.
É que, pior ‘inferno’ que a consciência de uma vida fracassada, porque desperdiçada, não poderá haver!