25 anos a fazer o sol brilhar para todos
Quando alguém celebra os 25 anos, há sempre alguém que brinca sobre ser um quarto de século, fazendo lembrar o peso da idade que, aos 25, ainda não se sente.
Com os 25 anos da Sol sem Fronteiras – conhecida como Solsef – há um passado a celebrar e um futuro a desenhar. Há um caminho cheio de projetos e voluntários que transformaram a Solsef numa associação com um quarto de século, mas que ainda goza da energia e jovialidade próprias da sua idade.
Os primeiros raios de sol
A Solsef é uma ONGD (Organização Não Governamental para o Desenvolvimento) nascida no seio da Família Espiritana pelas mãos do P. Firmino Cachada. No âmbito da celebração dos 25 anos o P. Firmino partilha como foi o início desta aventura sem fronteiras:
“Se a gente se lança ao rio ou ao mar, ou tenta nadar ou então se afoga e tudo acaba!
Pode parecer estranha esta maneira de começar o meu testemunho sobre os 25 anos da fundação de Sol Sem Fronteiras. Mas foi o produto natural da aventura “sem fronteiras” em que me meti quando, em 31 de Janeiro de 1973, resolvi criar um grupo de Jovens ao qual, juntamente com eles, decidimos dar o nome Sem Fronteiras. No início, era apenas um grupo de animação missionária, sobretudo para animar as festas da LIAM e as festas missionárias nas paróquias de Lisboa e arredores.
“A partir daí, a solidariedade sem fronteiras dos JSF foi uma corrente que nunca mais parou!”
Na sequência dessa animação nasceu o primeiro grupo local JSF na Foz do Arelho. Para começar, não passava de um pequeno grupo de 5 adolescentes, mas que depressa assimilaram o espírito missionário “sem fronteiras”. Nunca mais esqueço o “imposto do sol” que um dia resolveram cobrar aos frequentadores da praia da Foz do Arelho! Com esse dinheiro financiamos a abertura de um poço numa região seca do Uganda! A partir daí, a solidariedade sem fronteiras dos JSF foi uma corrente que nunca mais parou!
Em 1988 foi a construção da “Escola Sem Fronteiras” em Caió, na Guiné-Bissau, hoje uma escola secundária. Foi a primeira “Ponte”, com 6 elementos, mesmo se ainda não tínhamos adotado esse nome! Depois, foi a Ponte 92 em Cabo Verde, em que apoiamos financeiramente 5 jardins-de-infância. Depois foram contentores cheios de vestuário e outras coisas enviados para Angola. Entretanto, já estava em gérmen o grande projeto do Centro de Apoio à Infância em Ribeira Afonso, São Tomé! Só que, para mim, estava sendo “areia a mais para a minha camioneta”! No encontro nacional de Animadores de Grupo de 1992 lancei a ideia da criação de uma ONG e logo foi acolhida com entusiasmo.
Um ano depois, a 21 de Outubro de 1993, tinha lugar a aprovação dos estatutos e a assinatura da escritura pública. A ONG estava fundada e tinha uma sede e duas pessoas a tempo inteiro para a ela se dedicar.
Pensava eu que doravante poderia descansar. Estava bem enganado! Bem tentava nadar, mas estava completamente “afogado” na aventura solidária! Lembrando o imposto do sol, o sol brilha para todos era o lema escolhido para Sol Sem Fronteiras. Era também um desafio! Cheguei à conclusão de que trabalhar com outros dá mais trabalho do que trabalhar sozinho! Mas também dá mais resultado! A prova aí está. Parabéns, SOLSEF.”
Firmino Cachada CSSp, Fundador da Sol sem Fronteiras, na Amazónia
Um percurso sem fronteiras
A Solsef foi descobrindo o seu caminho ao longo dos anos e alargando as suas áreas de atuação
Como diz o poeta castelhano António Machado “O caminho faz-se caminhando”. E a Solsef foi descobrindo o seu caminho ao longo dos anos e alargando as suas áreas de atuação.
Da experiência de mais de 20 anos de projetos Ponte, em parceria com os JSF, a Solsef aumentou a família: em 2000 começou também a apoiar a equipa de Voluntariado Missionário Espiritano (VME) e em 2016 desenvolveu dois novos projetos de voluntariado de curta duração: Abraçar a Missão e Coração na Guiné-Bissau.
O VME acompanha e ajuda a formar voluntários que pretendem partir em missão por um período mais alargado (1 ou 2 anos). Desde 2004, onze voluntários partiram em missão para ajudar o sol a brilhar em Moçambique, Guiné-Bissau e Angola.
A Abraçar a Missão materializou o sonho de partir em missão a mais membros da Família Espiritana, nomeadamente da Liga Intensificadora da Ação Missionária (LIAM) e do Movimento Missionário de Professores (MOMIP).
O projeto Coração da Guiné-Bissau vem da longa relação entre a Solsef e o Agrupamento de Escolas de Peniche. Quando em 2001 surgiu a hipótese de reconstruir a escola de S. José (Bajob) na Guiné-Bissau, o Agrupamento de Escolas de Peniche abraçou a causa. A comunidade escolar foi mobilizada, foi lançada a Campanha Uma Escola no Coração e os alunos e professores conseguiram tornar realidade o projeto. O nome da Campanha permanece até hoje, e foi mote para a vontade de regressar à Guiné-Bissau com o projeto bianual de voluntariado Coração da Guiné-Bissau.
1995: Escola Sem Fronteiras, em Tubebe – Caió.
Centro Social de Apoio à Infância, em Ribeira Afonso, S. Tomé e Príncipe, 2005.
Para lá do voluntariado: o direito ao desenvolvimento
Ao longo dos 25 anos a Solsef conta com cerca de 25 projetos de cooperação desenvolvidos em PALOP’s nas áreas da saúde e da educação.
Os Princípios e Estatutos da Solsef, redigidos pela primeira vez em 1993, definem o objetivo de promover os ideais da fraternidade e solidariedade entre povos e particularmente entre jovens de países diferentes. Deste objetivo nasce a missão de apoiar o desenvolvimento integral e integrado dos jovens nos diferente países lusófonos, proporcionando-lhes acesso a cuidados de saúde e educação, assim como fomentando o desenvolvimento humano e económico das suas comunidades.
Ao longo dos 25 anos a Solsef conta com cerca de 25 projetos de cooperação desenvolvidos em PALOP’s (Países Africanos de Língua Oficial Portuguesa) nas áreas da saúde e da educação. Estes projetos foram apenas conseguidos graças às parcerias com os Missionários e Missionárias no terreno, à colaboração ativa dos JSF, e aos diversos apoios da sociedade civil (públicos e privados) dos quais destacamos o Camões I.P.
25 projetos pode parecer pouco, mas são estes projetos que ajudam a concretizar o sonho do desenvolvimento integral e do direito inalienável à educação e aos cuidados básicos de saúde.
O sonho começou na Guiné-Bissau com a construção da Escola Sem Fronteiras de Tubebe, foi alargando horizontes geográficos com o apoio à Escola Arquidiocese do Lubango em Angola e ao Centro de Apoio à Infância, em Ribeira Afonso, em S. Tomé, chegando também a Moçambique com o apoio às Escolinhas de Moçambique em Netia e depois com a construção de Lar Feminino, Masculino e Biblioteca em Itoculo, no projeto Juntos na Aprendizagem.
Lar feminino em Itoculo, Moçambique – parte do projeto “Juntos na Aprendizagem” 2014-17
2017-18: O Projeto “Edificando Educação” apoia o ensino primário em Calequisse, procurando a igualdade de género.
2018-19: O Projeto “Capacitando Futuro” apoia a formação profissional, em Oio.
Uma história que se escreve
Em 2018 a Solsef estará a desenvolver 3 projetos de cooperação na Guiné-Bissau na área da educação. O projeto Edificando Educação que visa promover o desenvolvimento integral e educativo dos alunos das escolas primárias de 4 tabancas de Calequisse. O projeto Capacitando Futuro tem como objetivo apoiar o desenvolvimento da Escola Vocacional de Bissorã, através da ampliação das infraestruturas residenciais e escolares e a criação de 3 novos cursos profissionais. E o projeto Aprendizagem Inclusiva que pretende apoiar o Centro Educacional Irmã Valdelícia, através da criação de infraestrutura de refeição, ampliação de espaço recreativo e fortalecimento do currículo pedagógico.
Nos planos deste novo ano contam ainda 2 projetos de voluntariado de curta duração (Ponte 2018 e Abraçar a Missão) e o apoio a uma voluntária de longa duração que partiu em janeiro para Itoculo, Moçambique.
Mas porque desenvolvimento também se faz em casa, a Solsef vai ter um ano repleto de exposições e conta-contos para dar a conhecer às crianças e jovens em Portugal as África’s distantes: realidades diferentes vividas um pouco por todo o lado e o papel de cada um de nós na luta por um mundo mais justo.
Com 25 anos, a Solsef tem ainda muita vida para escrever e história para viver!
Todos estes projetos se enquadram no âmbito da visão da Solsef: Viver num mundo com igualdade de oportunidades rumo ao desenvolvimento sustentado, e para isso, há que aproveitar bem que ainda estamos na flor da idade. Ao fim de 25 anos, o Sol não brilha ainda para todos, por isso ainda há muito caminho a andar, pontes a construir e projetos a apoiar, para concretizar este sonho. Com 25 anos, a Solsef tem ainda muita vida para escrever e história para viver!