Dizem que morreu novo, mas eu sempre o conheci velho. A ele e aos seus escritos. Ninguém, com menos de 120 anos, pode retratar a condição humana com o realismo, a inquietação e a comicidade como ele o fez. Lembrei-me dele por causa do Advento e das preces que repetimos sem saber o que estamos a pedir.
Não é um resumo, é um atalho: na peça “O Inspetor Geral”, o escritor Nicolai Gogol (1809-1852) convida-nos a ir até uma povoação russa do século XIX. Aquilo é uma desgraça de cidade, com as autoridades entregues à corrupção e à incompetência. Quando chega um inspetor à cidade, todos procuram corrompê-lo e cair nas suas boas graças, numa sequência de equívocos e situações hilariantes. Apercebem-se que ele, o inspetor, é um cínico como eles, que pode ser tratado como eles se tratam. Mas depois que ele parte, os habitantes são surpreendidos com a notícia de que esse funcionário era um impostor e o verdadeiro Inspetor acaba de chegar à cidade e quer que todos vão à sua presença. E a peça termina com os atores de pé, sérios, na espera do encontro com o Inspetor Geral.
Rezam as crónicas que quando esta peça foi apresentada a primeira vez, o público se divertiu e riu com as muitas situações cómicas apresentadas no palco. Mas Gogol, o autor velho que morreu jovem, ficou triste e até chorou ao dar-se conta que o público não percebera que, embora formalmente uma comédia, na verdade a peça era uma tragédia.
Durante o Advento vamos repetir muitas vezes “Vem, Senhor Jesus!” Assim mesmo, com um ponto de exclamação, mas que devia ser com um ponto de súplica, se a ortografia não fosse tão limitada. Na liturgia usa-se a cor roxa, que é a cor dos tempos de espera dos grandes acontecimentos. Suplicamos que venha Aquele que é a Verdade e há de julgar os vivos e os mortos. “Vem, Senhor Jesus, Caminho, Verdade e Vida”.
Durante o Advento vamos repetir muitas vezes “Vem, Senhor Jesus!” Assim mesmo, com um ponto de exclamação, mas que devia ser com um ponto de súplica, se a ortografia não fosse tão limitada. Na liturgia usa-se a cor roxa, que é a cor dos tempos de espera dos grandes acontecimentos.
“Crónica” é uma rubrica mensal do jornal “Ação Missionária“, pelo P. Aristides Neiva