A missão além-fronteiras e junto dos mais jovens sempre foram algumas das marcas da identidade espiritana, desde as suas origens.

Dão o rosto – e o sorriso – à capa desta edição, a Juliana Rocha, do Brasil, e a Cristina Hsia, de Taiwan. No âmbito da Jornada Mundial da Juventude de 2013 – que foi a primeira viagem internacional do Papa Francisco – a Juventude Espiritana Missionária do Brasil abriu a sua casa para acolher jovens que viajaram literalmente desde o outro lado do mundo, mas que partilham a mesma fé e o mesmo carisma missionário. Neste verão, em Portugal, também queremos que a nossa casa seja espaço de encontro, partilha e alegria.

Familia Una é o nome da proposta dos espiritanos para acolher cerca de 400 jovens espiritanos de todo o mundo numa experiência de pré-jornadas que quer avivar a chama missionária da nossa juventude.

Missão sem fronteiras, na nossa casa

Em Agosto, o nosso país tornar-se-á um enorme espaço de missão sem fronteiras. Jovens de todos os continentes rumarão a Portugal para a JMJ, que é “uma peregrinação, uma festa da juventude, uma expressão da Igreja universal e um momento forte de evangelização do mundo juvenil”.

Com uma forte dimensão de missão sem fronteiras e uma presença junto dos mais jovens deste a sua origem, os Missionários do Espírito Santo não podiam deixar passar uma excelente oportunidade para convocar jovens, dos quatro cantos do mundo, unidos pelo mesmo carisma e empenhados em construir um mundo mais justo e solidário. Com cerca de 350 inscrições já efetuadas, espera-se uma participação de cerca de quatro centenas de jovens e animadores de pastoral juvenil.

Familia Una é uma proposta dos Espiritanos em Portugal para a Jornada Mundial da Juventude 2023, que pretende proporcionar uma experiência profunda de Deus e de Família Alargada Espiritana, através de um caminho de santidade e de encontro com Jesus Cristo, participando ativamente em todos os momentos da JMJ.

Dezenas de voluntários estão há muito tempo a trabalhar para tornar esta experiência possível e inesquecível. Muitas famílias se preparam para abrir as suas portas e o seu coração a esta grande família jovem.

Ajude-nos também com a sua oração e com o seu donativo.

Para outros valores, recibo fiscal ou mais informações, contacte-nos.

Desde o norte, rumo a Lisboa

A proposta está dividida em diferentes momentos. No norte, haverá, de 22 a 27 de julho um tempo de missão em diferentes locais onde os espiritanos vivem e trabalham, em Braga, Barcelos, Porto e Godim. Este momento, chamado “Tempo Missio” vai prever interação com idosos, crianças e jovens, bem como a oportunidade de participar e animar celebrações litúrgicas. Cada dia terá uma temática diferente, com espaço para atividades culturais de partilha das origens de cada um, bem como tempo para conhecer a região.

Ao vir a Portugal, uma paragem em Fátima é obrigatória. Por isso, no dia 28, está previsto um dia naquele santuário mariano, um dos 7 mais visitados no mundo, conhecendo melhor a sua história e espiritualidade, com a celebração da Eucaristia e participação no terço e procissão de velas no recinto, que certamente estará repleto de muitos outros peregrinos do mundo inteiro. Este momento chama-se “Ave Maria”.

Às portas da JMJ, todos os participantes se reunirão no Seminário da Torre d’Aguilha, em S. Domingos de Rana – Cascais, entre os dias 29 a 31 de julho para um grande encontro de oração, formação, festa e missão. Neste momento, que se chama “Tempo Cor Unum”, haverá diversas atividades de interação entre os vários grupos, partilha de experiências e testemunhos de todo o mundo, participação ativa na comunidade envolvente e ainda momentos lúdicos.

A partir daí, mergulharão na dinâmica da JMJ, este grande encontro de jovens de todo o mundo com o Papa em que os jovens são os grandes protagonistas, como transmissores da paz, da união e da fraternidade entre os povos e as nações de todo o mundo.

Dos quatro cantos do mundo

Com as inscrições ainda por fechar, já há cerca de 350 inscritos. Do continente americano, os grupos mais numerosos são dos Estados Unidos da América e do Brasil. Mas também o Paraguai e a Bolívia estarão bem representados.

Do continente africano, o maior grupo vem de Cabo Verde, mas também virão jovens de Moçambique e da Guiné-Bissau, Guiné-Conakry e Senegal, países que pertencem à província espiritana da África Noroeste.

O continente asiático estará representado por um grupo de 25 jovens de Taiwan.

Da Europa, virão jovens da França, Irlanda, Reino Unido e Espanha. E, como é claro, há cerca de uma centena de jovens espiritanos inscritos de Portugal.

Da esquerda para a direita: Emma Polen, Lindsay Harvey, Kate Spadavecchia e Hannah Valenty, estudantes da universidade de Duquesne, nos EUA

Entusiasmo crescente

Tony Carbino, finalista em engenharia biomédica na universidade espiritana de Duquesne, não esconde o seu entusiasmo: “Estou estou muito entusiasmado com a oportunidade de me encontrar com espiritanos de Portugal e do resto do mundo. Estudar em Duquesne promoveu verdadeiramente o meu amor pela missão espiritana, e estou ansioso por conhecer novas pessoas. Estou também ansioso por experimentar comidas diferentes e praticar o meu francês. Não posso esperar pela viagem!”

Também Katelyn Spadaeccha, estudante de ciências naturais partilha a sua expetativa: “Estou ansiosa por conhecer outros espiritanos e fortalecer a minha fé através dos encontros interculturais”.

Emma Polen, estudante na na mesma universidade e membro da equipa espiritana de pastoral juvenil explica-nos que aquela universidade exemplifica o carisma dos espiritanos através do serviço e atividades de voluntariado, seja dentro da própria instituição, seja na comunidade alargada de Pittsburgh, onde a universidade se situa. Além disso, são desafiados a participar em projetos de missão espiritana, seja noutras regiões do país, seja fora dos Estados Unidos.

Ao grupo da universidade de Duquesne, junta-se também um outro da Escola Secundária do Espírito Santo na Filadélfia.

Do Brasil, um dos grupos que alinhou na iniciativa é a Juventude Movimento de Defesa das Favelas (JMDF). É um grupo que atua em favelas da zona leste de São Paulo com a finalidade de promover consciência sócioambiental, política e cultural, além de despertar a consciência crítica em jovens moradores de favelas.

O grupo pertence ao MDF (Movimento de Defesa das Favelas), um projeto multidisciplinar fundado e organizado pelo missionário espiritano Patrick Clark junto à moradores de favelas desde 1979. A sua atuação possui como ponto central a busca pela dignidade da pessoa humana da população através do acesso a políticas públicas e direitos como moradia, educação, cultura, arte e meio ambiente. Apesar de ser um projeto espiritano, o trabalho é Inter-religioso e possui a espiritualidade acima de qualquer religião. “Ter a JMDF neste evento traz esperança e abre caminhos para uma nova civilização do amor” – sublinham.

Marcelo Ferreira e Rayara Carla, desde grupo, referem que esperam “compartilhar conhecimentos, vivências e momentos com jovens de culturas diferentes, com o foco de produzir transformação individual e social e contribuir com a evolução dos outros jovens.” Guilherme Zequim também partilha as suas expetativas: “Eu espero conhecer pessoas das culturas mais diferentes possíveis, e que eles possam levar um pouco de mim e eu traga um pouco deles.” Sabrina Ferreira espera que toda esta experiência lhe traga “novos olhares de como cada lugar e cada grupo tem seu jeito de fazer as coisas.”

O P. Bismark Adu-Gyamfi, missionário espiritano do Gana, ao centro, com um grupo de jovens em Hsinchu

De Taiwan, do outro lado do globo também nos chegam sinais de entusiasmo e esperança em relação a este encontro. Falam-nos do contexto religioso e cultural onde vivem: “Desde pequenos, estamos habituados a expressões populares das religiões tradicionais chinesas, e os nossos amigos, colegas e familiares visitam templos em ocasiões diversas. A fé é algo a que estamos habituados, mas, como católicos, é difícil experimentar verdadeiramente a fé católica fora das atividades das nossas pequenas comunidades cristãs.” Assim, olham com grande expetativa para a oportunidade de experimentar a vivência da fé num país e entre jovens que partilham os mesmos ideais: “Esperamos que em Portugal, na Jornada Mundial da Juventude, possamos ver e sentir as formas diferentes de amor dentro da comunidade católica!”.

O grupo de Taiwan vem da Diocese de Hsinchu, onde os espiritanos iniciaram a sua missão naquele país, há 25 anos, e onde continuam comprometidos na pastoral juvenil e universitária. Vêm acompanhados pelo P. Bismark Adu-Gyamfi, espiritano do Gana, e também por um sacerdote aborígene taiwanês, e outro coreano, demonstrando a diversidade da Igreja naquele país.

Família alargada

São, de facto, muitos os dinamismos da Família Espiritana comprometidos com o planeta jovem.

Um dos grupos que virá da França, país onde nasceram os Missionários e Missionárias do Espírito Santo chama-se “Eugénia Jeunes”. É um movimento de voluntariado missionário internacional das Irmãs Espiritanas que permite a jovens de 18 a 30 anos partirem em missão de voluntariado de 3 semanas a dois meses, em África, Europa ou Ásia. Pierre Langrand, membro deste movimento, olha para esta iniciativa que pretende reunir jovens da Família Espiritana em torno da JMJ como um momento forte de partilha e encontro. Nas suas expetativas, sublinha o “Encontro com numerosos jovens vindos do mundo inteiro”; “uma experiência espiritual forte que me permita solidificar a minha fé”; “um evento que dê esperança face às guerras e outras tragédias humanas”.

Na Irlanda, país onde os espiritanos estão fortemente comprometidos na educação, a iniciativa Familia Una foi a ocasião para unir diversos membros de uma paróquia e de uma escola espiritanas e um grupo de estudantes internacionais. O que une o grupo é a JMJ e o grande objetivo é “criar comunidade e identidade espiritana” atrevés do programa “Familia Una”. E identificam as suas expetativas: “No centro da missão espiritana está a relação com os outros e, para nós, é importante encontrar os outros nas diferentes vertentes: encontrarmo-nos social e culturalmente; encontramo-nos e compreender juntos a missão como serviço aos mais pobres; encontrarmo-nos de uma maneira orante… e divertirmo-nos juntos!”

Jovens de Itoculo, Moçambique, em preparação para a JMJ

“Ponte Una”

O continente africano já acolheu dezenas de “Pontes Missionárias”, atividades de voluntariado que, durante o mês de agosto, proporcionaram experiências profundas de fé e missão a centenas de Jovens Sem Fronteiras de Portugal. No contexto da Jornada Mundial da Juventude surgiu a ideia bonita de fazer a experiência ao contrário: proporcionar a alguns jovens dos contextos mais defavorecidos onde já realizamos “Pontes Missionárias” a possibilidade de fazerem em Portugal uma intensa experiência de fé e missão, juntamente com outros jovens de todo o mundo.

Assim, neste ano em que, extraordinariamente, não se realiza uma “Ponte”, os Jovens Sem Fronteiras estão a movimentar-se para angariar fundos e possibilitar esta experiência a jovens de outras latitudes.

Um desses jovens é o Bonifácio que, em Itoculo – Moçambique, já conheceu dezenas de Jovens Sem Fronteiras e agora se prepara para vir participar na JMJ em Lisboa. Cristina Fontes, voluntária em Moçambique há cinco anos, fala-nos sobre o trabalho feito naquela comunidade:

“Em Itoculo, Moçambique, já estamos em preparação rumo à JMJ Lisboa! É com muita alegria que a nossa paróquia vai enviar o jovem Bonifácio André para participar e partilhar a Família Una com jovens de todo o mundo.

Foram muitos os jovens que o Bonifácio conheceu durante as diferentes pontes missionárias acolhidas em Itoculo. Chegou a vez de Portugal acolher os nossos jovens, representados pelo Bonifácio, que espera com grande entusiasmo por este (re)encontro.

Por aqui já iniciamos as catequeses de preparação para a JMJ nos quatro centros regionais e na sede da paróquia, onde está integrado o Bonifácio neste momento. Tal como Maria, os jovens de Itoculo aceitam, com alegria e coragem, o convite do Papa Francisco para se levantarem, saírem para a luz e anunciarem Jesus Cristo, ainda desconhecido para muitos jovens moçambicanos. Nos vários encontros, não faltou reflectir sobre o que muitas vezes nos impede de ter tempo para Deus e nos afasta do caminho de Jesus Cristo. É com esperança e muita animação que caminhamos juntos rumo aos sonhos que Deus tem para nós, jovens cristãos, aqui em Itoculo, em comunhão com todos os jovens do mundo na JMJ Lisboa. Nós vamos! E tu?!”

De um lado ao outro do mundo, em diferentes contextos sociais, culturais e religiosos ouvimos o mesmo grito: “Nós vamos!” E nós cá estamos para acolher da maneira que nos caracteriza, e para nos desenrascarmos da maneira que também nos caracteriza. As expetativas são muitas. Mas, como diz Bartosz, um jovem polaco que deu um ano da sua vida como voluntário para ajudar a preparar, em Portugal, a JMJ:

“Precisamos de ter menos expetativas e mais confiança. O que nos paralisa é o medo que provém destas expetativas, da imaginação orientada apenas para a nossa perspetiva. Através da confiança em Deus, o Senhor pode dar-nos a coragem de ir em frente. Pelo caminho podemos encontrar muitos desafios, podemos até cair, mas tenhamos sempre a certeza de que Cristo nos acompanha e nos dá a graça de nos levantarmos e seguirmos para onde Ele nos leva.”

Assim seja.