O Irmão Manuel do Carmo (à direita na foto, junto do Irmão Christian Roberti, belga, superior da comunidade espiritana de Gentinnes e Presidente da Direcção Social da ONG Kibanda) trabalha em Bruxelas, no coração da Europa, desde setembro de 2019. Depois de sete anos de serviço no CEPAC, no serviço aos imigrantes, aceitou o desafio do secretariado da região espiritana da Europa.
Um ano depois, partilha com os nossos leitores um pouco do seu trabalho. Para além do secretariado da região, com as suas várias comissões, apoia também o Centro Europeu de Solidariedade Espiritana (CESS) e a ONG Kibanda (Centro Espiritano para a Cooperação e Desenvolvimento) que funcionam nas mesmas instalações.
Para além dos trabalhos administrativos, os espiritanos em Bruxelas estão também comprometidos com o trabalho pastoral na periferia da cidade, marcada pela diversidade étnica, cultural e religiosa.
As circunscrições europeias têm vindo a trabalhar em conjunto em diferentes áreas há cerca de 30 anos. A UCE agora inclui 10 províncias ou grupos: Croácia, França, Grã-Bretanha, Irlanda, Países Baixos, Polónia, Portugal, Espanha, Província Europa (Alemanha e Bélgica), Suíça, tendo as comunidades na Itália estatuto de observador desde 2017.
(Foto: Responsáveis das várias circunscrições espiritanas da Europa em reunião na Suíça, em janeiro deste ano.)
Missão no velho continente
A UCE (união das circunscrições da Europa) é uma forma organizativa prevista na Regra de Vida Espiritana (RVE 160.1) para animar os confrades dentro da Europa e é também uma plataforma de solidariedade entre os grupos espiritanos do velho continente e com toda a congregação.
A estrutura formal da UCE teve os seus inícios em 1997, com o P. Jean-Pierre Gaillard, a secretário e o P. Firmino Cachada, a diretor do CESS (Centro Europeu de Solidariedade Espiritana).
Nota Histórica
O capítulo geral de Itaicí recomendou que para melhor responder aos problemas globais do nosso mundo, as circunscrições deveriam unir-se em regiões. E esta necessidade pode sentir-se particularmente “a partir de reflexões que visam responder a questões comuns tais como a JPIC (Justiça Paz e Integridade da Criação), os Irmãos, os Leigos Associados, a Formação, as prioridades missionárias e as políticas financeiras.” (Itaicí, § 39.1)
O capítulo de Itaicí realizou-se em 1992 e em 1994 os provinciais de Europa (reunidos a Bydgoszcz – Polónia, de 21 a 27 de novembro) reconheceram a necessidade de criar o “secretariado permanente” que garantisse o funcionamento da região Europa.
Uma comissão nomeada pelos provinciais, formada pelos padres Otto van den Brink, holandês, Joseph Brugraff, belga e Jean-Paul Hoch, francês, reuniu-se em Gentinnes, Bélgica, em janeiro de 1995 e apontou as linhas de um projeto administrativo e missionário que foi progressivamente submetido às diferentes assembleias de provinciais e ecónomos. O projeto previa uma união de esforços para reavivar a missão evangelizadora na Europa: abertura de uma comunidade espiritana internacional de nova evangelização em Rostock (Alemanha de Leste), Formação inicial de novos espiritanos (abertura formal de comunidade de Noviciado primeiramente na Irlanda e mais tarde em França), abertura de uma comunidade espiritana a Bruxelas para o secretariado, o CESS e o Centro Espiritano para a Cooperação e o Desenvolvimento (que assumirá o estatuto de ONG – Kibanda) e a animação da “região Europa” através de diferentes comissões por áreas de trabalho: Animadores missionários e vocacionais, Formadores, Educadores dos colégios da Congregação, Arquivistas, Justiça e Paz, Leigos e Comunicações. Uma dinâmica que se manteve até aos nossos dias. A região Europa passaria a chamar-se UCE (união das circunscrições da Europa) em 2013.
A crise multifacetada vivida pelas sociedades e igrejas europeias deve ser vista como um momento de Kairos, chamando a Congregação a mostrar criatividade e dinamismo missionário. De facto, nos últimos anos houve uma renovação missionária num grande número de circunscrições europeias, que antes se consideravam irrevogavelmente em declínio. Dois movimentos uniram forças para possibilitar esta nova dinâmica: a identificação de novos apelos e novos espaços missionários (comunidades paroquiais multiculturais, apoio aos migrantes e vítimas de tortura, apostolado com os jovens) e a missão de muitos confrades, jovens ou experientes, de outros continentes e integrados nesta visão comum de uma missão espiritana na Europa.
P. John Fogarty, Superior Geral
(Foto: Reunião da Direção do Kibanda.)
A UCE nos nossos dias
Esta tendência organizativa das províncias da Europa, posteriormente recomendada pelo capítulo geral de Bagamoyo (Cf. § 6.8.2), teve também como resultado prático a união das províncias da Bélgica e da Alemanha em 2010. E o provincial dos espiritanos destes dois países – hoje o P. Michel Huck – tem a sua sede em Bruxelas, na mesma comunidade onde me encontro desde há 1 ano, com o P. Norbert Maréchal, que se ocupa da pastoral paroquial em Aderlecht, e o P. Michael Begley, diretor de CESS e Kibanda.
Os estimados leitores da Ação Missionária sabem que a prática religiosa no centro da Europa é mais baixa do que em Portugal e que isso pode-se traduzir igualmente em maior dificuldade no apoio à missão evangelizadora ad intra ou ad extra; aqui não há LIAM nem Jovens Sem Fronteiras; sente-se a ausência de vocações; o aumento da idade média dos confrades e a dificuldade em responder aos compromissos espiritanos.
Por isso, o principal objetivo da UCE é o de favorecer a cooperação entre as diferentes circunscrições da Europa com uma prática de solidariedade com aquelas que tenham maior dificuldade. É com este fim que a província de Portugal me enviou para a Bélgica e assim Deus me ajude.
Com a crise do covid, muitos dos encontros de comissões da UCE foram anulados e substituídos por encontros à distância. Com menos viagens, dou uma maior colaboração em casa (comunidade espiritana) e na paróquia de Saint-Gilles – Bruxelas, uma comunidade com muitos portugueses.
Dou graças a Deus pela confiança que mereci dos meus confrades para este serviço de secretário dos provinciais e das comissões espiritanas da Europa. Depois de 7 anos de dedicação no CEPAC (Centro Padre Alves Correia) continuo a procurar responder ao apelo do Mestre com mais tempo para a oração, para a comunidade espiritana e para a formação contínua. Muito obrigado.
Os Missionários do Espírito Santo foram fundados no coração da Europa, em Paris, no ano de 1703. Daí partiram para os quatro cantos do mundo. A Revolução Francesa quase aniquilou a Congregação. Mas esta haveria de ganhar novo fôlego sob a inspiração do Ven. P. Libermann. A Congregação foi-se algargando a outros países europeus, sobretudo para recrutar missionários para partir para outros continentes, mas também se envolvendo no serviço pastoral e social, nomeadamente ao serviço da educação.
Em 1867, estabeleceram-se em Portugal com o grande objetivo de formar missionários para a evangelização de Angola. Em 1951, os espiritanos portugueses atravessaram a fronteira e estabeleceram a congragação na Espanha. A fronteira mais recente a ser cruzada na Europa foi a Croácia, com presença espiritana desde os anos 80.
A Europa é cada vez lugar de missão, bem na linha do carisma espiritano primeira evangelização, diálogo inter-religioso, compromisso junto dos mais pobres… No início dos anos 90, os espiritanos criaram uma comunidade em Rostock, no Leste da Alemanha. Marcam presença nas periferias humanas de grandes cidades como Roterdão, Bruxelas ou Paris. Comprometem-se junto dos imigrantes e refugiados.
Tudo isto sem deixar de se solidarizar com as necessidades da missão além-fronteiras e de manter acesa a chama de partir. Apesar da avançada idade de grande parte dos seus membros, há uma fatia bastante significativa de espiritanos europeus que trabalham fora do seu país. A média etária dos espiritanos originário de Portugal, por exemplo, é de quase 75 anos. No entanto, cerca de um terço dos seus membros estão em missão noutros países.