Aqui chegados, ao mês de junho, peçamos ainda a S. José que nos empreste outra das suas ferramentas de carpinteiro: o martelo, fácil de levar e prático no utilizar. Já o profeta nos informara: “Não se assemelha a minha palavra ao fogo, diz o Senhor, e ao martelo que tritura as rochas?” (Jer 23,29). Compreendemos então porque Santo António de Lisboa, que este mês nos visita no dia 13, foi chamado de “Martelo dos Hereges”. A primeira biografia do santo, a Legenda Assídua, narra: “Dia e noite tinha discussões com os hereges; expunha-lhes com grande clareza o dogma católico; refutava vitoriosamente os preceitos deles, revelando em tudo ciência admirável e força suave de persuasão que penetrava na alma dos seus contrários”. Vemos, então, que aplicadas na evangelização, pregar e pregar tornam-se, além de palavras homógrafas, também sinónimas.
Mas não esqueçamos que estamos a falar de martelo de carpinteiro, o qual, além da cabeça para bater nos pregos, tem umas orelhas que servem para arrancar os pregos, despregar. Portanto, tanto prega como desprega. Sim, tanto erro, tanto engano, tanta ideologia que precisa de ser arrancada, despregada das mentes e dos corações. Haja martelos e carpinteiros, que pregos heréticos e falsos a precisarem de ser arrancados não faltam! Pregar a verdade e despregar os erros era a missão de Santo António. Por exemplo em Rimini, onde o Martelo dos Hereges “enraizou de tal modo a palavra da virtude e a salutar doutrina nos corações dos ouvintes que, eliminada a impureza do erro, grande multidão de crentes aderiu fielmente ao Senhor”, garante a Legenda Assídua.
Não tem de ser tudo à martelada, eu sei. É o que nos ensina Santo Éfrem, o Sírio, que celebramos também em junho, no dia 9. Também ele pregou as verdades da fé no coração dos pagãos, também arrancou o erro das heresias doutrinárias que já eram muitas lá pelas lonjuras do século IV. Mas ficou na memória da Igreja com o cognome de “Cítara do Espírito Santo”. Um título justificado pelos belos hinos e poemas que compôs, o meio privilegiado que usava para evangelizar. E também pela beleza com que expunha aos fiéis as verdades da fé.
Que a vida e obra de Santo António e de Santo Éfrem inspirem todos aqueles que, com martelos ou com guitarras, têm o dever de anunciar e guardar a fé da Igreja.
Não esqueçamos que estamos a falar de martelo de carpinteiro, o qual, além da cabeça para bater nos pregos, tem umas orelhas que servem para arrancar os pregos, despregar. Portanto, tanto prega como desprega.
“Crónica” é uma rubrica mensal do jornal “Ação Missionária“, pelo P. Aristides Neiva