Entre os espiritanos consagrados, há padres e irmãos. Partilham a mesma identidade religiosa e missionária. Pedimos ao Irmão Carmo para nos falar, em primeira pessoa da sua vocação e missão.
Olá, sou o Carmo, tenho 46 anos, natural de Alvelos – Barcelos e missionário do Espírito Santo, com um compromisso definitivo para viver a vocação de irmão desde 2000.
Nasci e cresci numa família cristã. Tinha um tio padre missionário da Boa Nova que quando passava era uma festa lá em casa para os mais novos.
Em 1985 – tinha eu 14 anos – o P. Veríssimo Teles, espiritano, hoje no lar Anima Una em Braga, passou, ocasionalmente, na turma do 8º ano do Colégio La Salle, em Barcelinhos. Pediu a apresentação de cada um e perguntou-me: “o que é a vocação?” E eu não soube responder, mas foi a maneira de ele mesmo nos falar da vocação espiritana. E tudo acabou por ali. Todos fomos para casa levando uma pagela sobre os missionários.
Em 1988, o mesmo P. Teles veio substituir a Professora numa aula de Religião e Moral do 11º ano na Escola Secundária de Barcelinhos. E eu pensei: “este é aquele que passou no La Salle!”. Terminada a aula, vim para casa e escrevi-lhe. E ali começou o namoro para ser espiritano.
No ano lectivo 1989/90, ingressei no Seminário da Silva para ser padre. Quatro anos depois, fiz o Noviciado: mais tempo para rezar e reflectir. E aqui cresceu o meu desejo pela vocação de irmão.
Terminada a formação inicial, pedi para fazer a minha consagração religiosa como irmão.
Fui acolhido com alegria e no ano 2000, recebi a nomeação missionária do Superior Geral para a missão na Guiné Conacri e Bissau, onde trabalhei, sobretudo nas escolas da missão, até 2008. De regresso a Portugal, entre 2008 e 2012, acompanhei algumas atividades do lar residencial sénior ‘Anima Una’, em Braga, ao mesmo tempo que segui o curso de Serviço Social. E desde fevereiro 2012 encontro-me na comunidade espiritana da Estrela – Lisboa, casa na qual funciona também o CEPAC.
O Centro Padre Alves Correia – instituição de solidariedade social (IPSS) que acompanha imigrantes e refugiados no seu caminho de integração e autonomia – tem crescido em volume de serviços e corresponde a uma resposta de caris espiritano no domínio de justiça e paz e integridade da criação. Acompanha 800 famílias/ano, com 1000 presenças/mês para os diversos serviços oferecidos nas áreas do atendimento social, psicológico, clínico; alimentação, vestuário, formação, emprego e apoio jurídico para a regularização documental do imigrante. Trata-se de uma resposta social a um problema humanitário emergente dos últimos anos (crise dos refugiados) e eu agradeço à Congregação o investimento e a confiança depositada em mim para a gestão da mesma.
É portanto no CEPAC que nos últimos anos tenho vivido o meu ser espiritano – irmão.
Por todas as casas e missões que tenho passado, tenho bem presente a importância da vida comunitária. Em Lisboa acompanho igualmente alguns grupos da LIAM – que aliás este ano faz a campanha também em favor do CEPAC – e mantenho uma atitude de disponibilidade. E neste aspecto padres e irmãos somos semelhantes: todos deveremos viver em função de um projeto comum, mesmo que haja tarefas distintas. Eu também construo a minha comunidade, a minha congregação. Começa na maneira de falar, de conviver e de rezar em comum.
Dou graças a Deus pela vocação que o Senhor me concede viver. É uma felicidade poder ajudar a quem não nos pode retribuir. Esta é a vocação que a Congregação me proporciona viver. Obrigado.