Não é muito conhecido mas é muito visível, pois está ao lado de um dos monumentos mais visitados de Lisboa. O pequeno “Jardim da Burra”, junto à basílica da Estrela, tem no seu centro uma escultura que lhe ditou o nome popular. É claro que o nome oficial do jardim é outro (5 de outubro), mas nem sempre o povo vai atrás do que ditam os oficiais. O nome popular é óbvio, mas enganador. A escultura, de 1918, da autoria de Costa Mota (tio), mostra uma família de camponeses da época. Um homem de enxada ao ombro caminhando ao lado de uma camponesa com um bebé ao colo, sentada sobre uma burra que transporta cestos. Diz a literatura que o escultor quis fazer a memória de atividades agrícolas da época, mas também simbolizar a Sagrada Família. Compreende-se então que o conjunto escultórico esteja catalogado com o nome de “O Lavrador” ou “Sagrada Família”. Mas a voz popular ignorou a Família e apegou-se à Burra.
Por falar em Burra, dia 8 de maio assinala-se o Dia Internacional do Burro. Ocasião para dignificar todos os burros e reconhecer “a importância destes animais dóceis, resilientes e sociáveis”, leio. Não podia estar mais de acordo. Elogios aos burros não faltam na história universal e nos escritos espirituais. Conta-se que durante as guerras napoleónicas, o general Louis Friant em missão no Egipto viu-se atacado pelo exército inimigo e ordenou: “A divisão forma em quadrado, com os sábios e os burros no meio!” Rezam as crónicas que quanto aos burros e aos sábios, “só se perderam dois, levando um deles o outro em cima”. Quanto aos escritos espirituais, basta pensar na jumenta de Balaão, que falou para salvar a vida do profeta (Nm 22,21ss), e tem inspirado inúmeros santos. O Padre Libermann, numa das primeiras cartas que temos dele, a um seminarista, depois de lhe ter dado alguns conselhos, escrevia: “Perdoe-me, meu caro, o ingerir-me sempre a dar-lhe conselhos. Um pobre homem como eu devia estar sempre calado; mas a glória de Deus e o seu bem espiritual parecem exigir que eu fale. Lembre-se, aliás, de que a burra de Balaão fez outro tanto ao dono, falou-lhe. Tome, pois, o que eu lhe disse como vindo da boca de um burro” (LSI, p.21). O mês de maio é também mês de Maria. Santo António Maria Claret, entre outras coisas que aprendia com os burros, dizia: “Nossa Senhora serviu-se do burro para a sua viagem na fuga para o Egito, com a perseguição de Herodes. Também me ofereço a Maria para levar o seu nome a toda a parte com prazer e alegria”.
Voltemos ao Jardim da Burra. Quem lá se dirige à procura do animal não pode deixar de ver a Família. O Dia Internacional do Burro nos faça recordar a Família, a Sagrada e as que se vão santificando com a ajuda de Maria.
Quem se dirige ao Jardim da Burra à procura do animal não pode deixar de ver a Família. O Dia Internacional do Burro nos faça recordar a Família, a Sagrada e as que se vão santificando com a ajuda de Maria.
“Crónica” é uma rubrica mensal do jornal “Ação Missionária“, pelo P. Aristides Neiva