Há muitos anos faz parte das minhas rotinas de férias. Passar pela igreja de São Domingos, em Viana do Castelo, e lá rezar junto ao túmulo de São Bartolomeu dos Mártires (1514-1590). O arcebispo santo renovou a Igreja do norte de Portugal no século XVI e celebramos a sua memória litúrgica neste mês de julho, dia 18.
Nessa mesma igreja de São Domingos, faz agora 90 anos, foi ordenado bispo Moysés Alves de Pinho (1883-1980) para Angola e Congo, a diocese que na época abrangia todo o território de Angola. A ordenação foi a 17 de julho de 1932 e três meses depois estava a tomar posse da vastíssima diocese que estava há 16 anos sem bispo. Faz parte das minhas rotinas em Luanda passar regularmente pela igreja dos Remédios, antiga Sé, e lá rezar junto ao túmulo de Dom Moysés.
Não são os ossos ou o pó deles que me fazem peregrinar até aos seus túmulos. Antes a memória e as lições de vida daqueles homens que nunca me conheceram mas de quem sou devedor. Um, evangelizou, organizou e renovou a diocese onde nasci e cresci, Braga; o outro, fez o mesmo na diocese onde vivo e exerço o meu ministério, Luanda. Quatro séculos separam os dois, mas a mesma fé, entrega e santidade os une. Quando lemos a biografia e escritos de ambos, percebemos o quanto as suas vidas têm em comum, apesar da distância na história e na geografia. O mesmo zelo apostólico que os levava até à mais distante das povoações das suas dioceses (Bartolomeu dos Mártires visitava regularmente as mais de 1200 paróquias que compunham o território que lhe estava confiado; dom Moysés logo no primeiro ano do seu episcopado visitou todas as paróquias e Missões de toda Angola). A mesma preocupação com a formação cristã séria do clero e dos leigos. A mesma atenção aos probemas sociais e ao bem estar das populações. O mesmo cuidado e exigência na liturgia. O mesmo empenho na renovação pastoral mas na fidelidade ao magistério e à doutrina. A mesma paixão e entrega sem limites ao anúncio do Evangelho. “Arder e iluminar” era o lema episcopal de São Bartolomeu dos Mártires que, sabemos hoje, não é lema mas resumo de vida.
Hoje, como no passado, sente-se a urgência de evangelizar, renovar a pastoral, enfrentar novos desafios, traçar novos caminhos. Quem já o fez no passado pode nos ensinar no presente que não é inventando palavras e repetindo slogans que se anuncia a única novidade que interessa. A peregrinação aos seus túmulos não é turismo nem saudosismo, mas aprendizagem. Os santos nunca envelhecem e nunca deixam de ensinar.
Hoje, como no passado, sente-se a urgência de evangelizar, renovar a pastoral, enfrentar novos desafios, traçar novos caminhos. Quem já o fez no passado pode nos ensinar no presente que não é inventando palavras e repetindo slogans que se anuncia a única novidade que interessa. A peregrinação aos seus túmulos não é turismo nem saudosismo, mas aprendizagem. Os santos nunca envelhecem e nunca deixam de ensinar.
“Crónica” é uma rubrica mensal do jornal “Ação Missionária“, pelo P. Aristides Neiva