Já lá vão uns anos. Estava na igreja de Minas de São Domingos, no Alentejo. Tentava convencer uma senhora que não devia trazer o cachorro quando vinha à missa, pois a igreja não era lugar para cães, quando ela me atira: “Se o canito pode estar ao pé do santo, porque não pode estar ao pé da gente?” Voltei-me a acompanhar o olhar dela que fitava o altar mor. De facto, mesmo por cima do sacrário, a imagem de S. Domingos tinha do lado direito um cachorro com uma tocha na boca. O infeliz santeiro que fez a imagem inspirou-se na história que conta que antes de São Domingos nascer, sua mãe sonhou com um cão levando uma tocha acesa na boca, incendiando o mundo. O sonho foi interpretado como uma profecia, anunciando que a missão do seu filho seria iluminar o mundo com a luz do evangelho. Vivam os artistas e a sua liberdade de criação, mas era evidente que a iconografia agora me atrapalhava a argumentação. “O canito do santo não ladra”, ainda defendi. “O meu também não, é muito educado”, respondeu-me. Pareceu-me que São Domingos lá do altar sorria, mas deve ter sido impressão minha. O santo, cuja memória celebramos a 8 de agosto, combateu as heresias, “falando sempre com Deus ou de Deus”, e fundou a Ordem dos Pregadores.
Continuando em agosto, no dia 20 celebramos São Bernardo. Fui ao Google e escrevi São Bernardo, opção imagens e parece castigo: só me aparecem fotos de cachorros. Porque é que uma raça canina se chama “São Bernardo”, é para mim um mistério. Mas conforta-me saber que é “extremamente bondoso, leal e corajoso”. O cão, que acerca da personalidade do santo tenho de procurar um pouco mais. “Recebeu uma piedosa educação”. Agora estou a falar do santo. “Nasceu no ano 1090 em França. Admitido entre os Monges Cistercienses, foi eleito abade do mosteiro de Claraval. Com a sua actividade e exemplo exerceu uma notável influência na formação espiritual dos seus irmãos religiosos. Por causa dos cismas que ameaçavam a Igreja, percorreu a Europa para restabelecer a paz e a unidade. Escreveu muitas obras de teologia e ascética.”
São Bernardo, rogai por nós para que sejamos bondosos, leais e corajosos na defesa da verdadeira doutrina.
Tentava convencer uma senhora que não devia trazer o cachorro quando vinha à missa, pois a igreja não era lugar para cães, quando ela me atira: “Se o canito pode estar ao pé do santo, porque não pode estar ao pé da gente?”
“Crónica” é uma rubrica mensal do jornal “Ação Missionária“, pelo P. Aristides Neiva