Combater a miséria, com todos os meios disponíveis, é proposta do Papa Francisco que não se tem cansado de chamar a atenção para as periferias e margens da nossa história.
O Dia Mundial dos Pobres não pode ser apenas mais um que se celebra e se põe na gaveta no dia seguinte. O Jubileu da Misericórdia ‘obrigou’ o Papa a prolongar o que a Igreja reflectiu, rezou e viveu nesse ano tão marcante para os cristãos. A criação deste Dia Mundial, celebrado a 19 de novembro, traz responsabilidades acrescidas à Igreja. É urgente arregaçar as mangas e fazer tudo o que se puder para que haja mais justiça e paz. É imperioso reconhecer que há economias que matam e que a indiferença – disse o Papa neste dia em Roma – é a arma mais letal que as pessoas dispõem e usam diariamente. O almoço de Francisco com muitas centenas de pobres no Vaticano é mais um gesto profético que mostra quanto os mais pobres devem ter lugar no coração da Igreja e nas preocupações dos governantes do mundo inteiro.
As voltas que tenho dado ao mundo provam-me que a pobreza é geral e não há razões para nos orgulharmos do estado de desgraça a que as vidas de muitas pessoas foram condenadas. É duro ver tantas crianças de rua a deambular pelo mercado abastecedor de Assunção, no Paraguai, como é duríssimo conhecer as vidas sofridas dos mais de cinco mil reclusos na prisão de Palmasola, em Santa Cruz de la Sierra, na Bolívia. E falo apenas de pessoas com quem os Missionários Espiritanos, que visitei recentemente, partilham vida e preocupação pastoral.
O mundo tem de mudar. Como aceitar que se deite fora comida e haja milhões com fome? Como permitir que haja tanta terra sem gente e tanta gente sem terra? Como se explica que haja tanta escola vazia e tanta criança sem escola? E há ainda a urgência de combater a falta de esperança no futuro que vitima milhões de pessoas que não esperam nada do amanhã.
A pobreza miserável faz razias por esse mundo além. Há que a combater com todas as forças. Salvemos a pobreza evangélica que propõe vidas simples, orantes, despojadas e dedicadas aos outros. Trabalhemos para erradicar todas as formas de pobreza que esmagam, humilham e matam. Este Dia Mundial dos Pobres vai abrir uma brecha nas nossas muralhas de cristãos que pouco fazemos para que o Evangelho rasgue caminhos de justiça, paz e fraternidade. Dêmo-nos as mãos e os corações para que o Evangelho tome conta de nós e transforme o mundo.