34º Domingo do Tempo Comum
É natural que estranhemos o uso da imagem do pastor para identificar a realeza de Cristo! Na verdade, tudo aquilo que geralmente caracteriza a realeza (trono, coroa, majestade, protocolo, aparato, distância …) não cola com a figura do (bom) pastor, o qual não apenas cuida do seu rebanho de forma global e anónima, mas se dedica de forma pessoal e diferenciada a cada uma das suas ovelhas, tendo em conta a sua situação: vai procurar a que se desgarrou e anda perdida ou tresmalhada, cuida da que está ferida, acarinha e trata da que anda enfraquecida, e não se dispensa de velar pela gorda e vigorosa, pois para ele cada uma das suas ovelhas é única.
Mas, se assim fosse, a realeza de Cristo seria apenas mais uma, igual a tantas outras que se foram sucedendo ao longo dos tempos e dos lugares, mas que tiveram todas o mesmo destino: a poeira do esquecimento! Apesar de ser uma lição aparentemente fácil de aprender, continuamos a viver em tempos em que os homens se prostram subservientemente diante dos poderosos e famosos e dão tudo para conseguir ‘um momento de glória’.
A nós, cristãos, não basta que recusemos e contestemos esta mentalidade, exige-se-nos que demos testemunho da realeza de Cristo, pela nossa vida e atitudes. Mas, para isso, temos de aprender a reinar ao jeito de Cristo, pois só n’Ele se encontra a verdadeira realeza, aquela que não é origem de dominação e de despotismo, mas, pelo contrário, fonte de vida e de vida em abundância. Daí que a Palavra do Senhor recorra à imagem do pastor, para quem o cetro real é o bastão a que se apoia, o palácio e o trono são trocados pelas pastagens onde as ovelhas se alimentam, e as honrarias pela solicitude por todas e cada uma das suas ovelhas.
Num tempo em que se multiplicam as tiranias, quantas vezes camufladas em roupagens atraentes e sedutoras, só com Cristo poderemos ser verdadeiramente independentes para nos pormos amorosamente ao serviço dos outros. Mas, não se trata apenas de fazer o bem – é preciso fazer bem o bem. Para ser obra de misericórdia, o bem precisa de ser feito com o coração.
E esta é a única condição exigida a quem pretenda ser cidadão deste Reino e que está ao alcance de todos: ir ao encontro daqueles que passam necessidade: fome, sede, falta de roupa, doença, solidão, prisão! Com efeito, como diz a Constituição ‘Lumen Gentium’ do Concílio Vaticano II, a realeza de Cristo assenta na dignidade e liberdade dos filhos de Deus; tem uma única lei: o mandamento do amor; e uma única finalidade: a construção do Reino de Deus, “começado já na terra pelo próprio Deus e que deve ser continuamente desenvolvido até ser também por Ele consumado no fim dos tempos” (nº 9).
Esta é a única chave com que poderemos abrir a porta do Reino dos Céus! Com efeito, como disse alguém, Deus não olhará tanto para as nossas faltas, mas para as nossas mãos, para ver se elas estão vazias ou cheias de boas obras!
P. José de Castro Oliveira